
Em Missão Impossível – O Acerto Final, Tom Cruise retorna como Ethan Hunt no capítulo final da luta contra a Entidade, que mistura tensão geopolítica moderna com a adrenalina característica da franquia. Dirigido por Christopher McQuarrie, o filme se destaca por sua ambição narrativa e pela constante tentativa de manter a saga relevante, especialmente em um cenário cinematográfico saturado por superproduções digitais que, muitas vezes, perdem o senso de realidade.
O grande mérito do filme está em sua ação física e visceral. Cruise, como já se tornou sua marca registrada, faz questão de realizar suas próprias cenas de risco — e essa decisão rende momentos genuinamente eletrizantes. A sequência em que Ethan salta de moto de um penhasco é um espetáculo que, além de impressionar pelo realismo, mostra o comprometimento quase insano do ator com o cinema de ação. Esse tipo de entrega, rara atualmente, garante ao filme um peso que vai além do entretenimento: é também um tributo ao cinema artesanal de ação.
Outro ponto alto está na introdução de novos personagens, com destaque para Grace (Hayley Atwell), uma ladra sem treinamento formal, mas cheia de recursos. Sua relação com Ethan adiciona humor, tensão e até mesmo uma leveza inesperada à trama. Ela representa um contraste interessante com os demais membros da equipe, geralmente altamente treinados e experientes, e sua presença torna o grupo mais humano, mais falho — e, por isso mesmo, mais interessante.
A trama, centrada em torno de uma inteligência artificial chamada “A Entidade”, que ameaça dominar sistemas de segurança e controle globais, é surpreendentemente atual. Em um mundo cada vez mais dependente de tecnologia e ao mesmo tempo assombrado pelas suas consequências, o roteiro faz um bom trabalho ao evocar temores contemporâneos, sem cair no didatismo. A ameaça digital se mostra diferente das convencionais, dando à narrativa um frescor que a série precisava neste ponto da jornada.
No entanto, o filme não é isento de falhas. Seu maior problema talvez seja o ritmo. Com mais de duas horas e meia de duração, a primeira metade do longa pode parecer arrastada, especialmente por concentrar-se demais na exposição e na ambientação de um universo que o público já conhece bem. Algumas sequências, embora bem dirigidas, poderiam ter sido encurtadas sem prejuízo à história, o que traria um dinamismo maior ao conjunto.
Outro ponto que merece crítica é o vilão. Gabriel, interpretado por Esai Morales, é introduzido como alguém com uma conexão pessoal com o passado de Ethan, o que promete uma carga dramática significativa. No entanto, essa promessa não se cumpre plenamente. Apesar de seu ar enigmático e presença ameaçadora, o personagem carece de tempo de tela e desenvolvimento suficiente para realmente impactar. Suas motivações são vagamente esboçadas, e o espectador é deixado com a sensação de que o confronto entre ele e Ethan poderia — e deveria — ter sido muito mais intenso e pessoal.
Além disso, embora a ação seja um dos pilares da franquia e continue a funcionar muito bem, há uma leve sensação de que o filme se apoia demais nela. Em certos momentos, a trama parece avançar apenas para justificar a próxima perseguição ou combate, e isso pode tornar a experiência um tanto repetitiva. Um equilíbrio mais cuidadoso entre ação e construção narrativa teria sido bem-vindo.
Ainda assim, Missão Impossível – O Acerto Final é um espetáculo envolvente, que honra o legado da franquia e eleva o nível do que se espera de uma superprodução de ação. Tom Cruise segue provando que, aos 60 anos, ainda é um dos últimos grandes astros de ação do cinema. Com uma conclusão promissora à vista na Parte 2, o filme cumpre seu papel de empolgar, entreter e — ainda que com algumas arestas por aparar — manter o público investido no destino de Ethan Hunt.